segunda-feira, 21 de abril de 2008

BONECA

Preparei uma festa
Vesti-me de boneca
Iluminei meu sorriso
Despi-me sem pudor
Com a luz do seu olhar.
Corri de mãos dadas
De hora marcada
Porque o tempo voa.
A roupa da boneca
como uma colcha estampada
No espelho mostrava
Dois corpos nus.
Boneca sôfrega
Sapeca, travessa, fazia suspense
Tirava suspiros com beijos mil.
Aplausos.
Em vão suas roupas coloridas,
Berrante saia esvoaçante
Sem sombra de luz,
Refletia no quarto todo seu corpo
Suado, sarado, amado
De uma tarde sem fim.
O espetáculo acabou.
A boneca de roupa amassada
Esvaiu-se de mansinho,
Agradeceu...
Reverenciou...

Gina Maria Higino

NOITE BELA


Vejo estrelas no teto.
A lua companheira invade o ambiente,
a penumbra recebe a palidez de sua luz.
A claridade torna-me duas, o som itálico
invade-me.
Ítalo acorde leva-me.
Lugar simples, móveis simples,
pessoas simples, na redundância do exagero,
palavras caem de meus olhos...
despeço-me... viajo...
estou no mar...
Neruda está em mim.
O agito das ondas encanta-me,
As espumas dançam à melodia do convite.
Sedução...
O magnético som das gaivotas ressoa,
trazem-me o puro.
Tecidos leves adornam-me.
Na leveza, o medo existe,
A água faz-me sereia r
olo na atrevida meninice,
que pesca siris em redes de borboletas.
A poética renovação da essência
mostra-se na alma.
Cansaço no rosto...
Rugas permeiam meus olhos.
Lábios sequiosos perdem-se no sorriso,
o espelho revela a luz de olhos escondidos.
Contemplo pés cansados, pedindo terra,
A pureza predomina.
Simplicidade.
Volto.

Maris Ester A. Souza

BOLERO

Me arrumei toda, linda num vestido preto
Maquiagem delicada, perfume importado, sandálias douradas
Os cabelos brilhando,os olhos mirando o meu sonho mais secreto
Todas as suas possibilidades de resistência anuladas
Diante dessa minha emboscada perfeita

Olhei no espelho, fiquei satisfeita
Acendi as velas, os incensos
Abri aquele vinho branco especial
O ar carregado de um desejo intenso

Lancei um olhar perigosíssimo e fatal
E te convidei pra dançar aquele bolero italiano
Te agarrei, te dei mil beijos insanos
Nos perdemos na vertigem da loucuraDa noite escura.

E quando a música parou de tocar
Abri os olhos, terminei o vinhoE os meus cabelos não estavam em desalinho
Como deveriam estar
Se estivesses aqui e não me obrigasses a sonhar sozinha.

Guardei as sandálias, o vestido, tirei a pintura
Tirei também de mim e do meu peito a tua imagem que me tortura
E aos poucos quero tirar-te do meu pensamento
Esquecer esse sonho que só eu sonhei, e desfazer para sempre
Esse encantamento...

Gisele Maria Zambonini

CINZAS

Na lembrança de nossas vidas
No cruzamento de nossos sonhos
Revivo as cicatrizes das feridas
Resultantes de um amor vivido
Que não fora mais que ilusão.
Num frenético vai-e-vem
De tentativas
Num sentimento ferido
Pela vida dividida
Busco uma volta, talvez curativa
Que embaça-me o ser
Navego num mar de incertezas
Sinto-me bater e voltar
Num êxtase de dúvidas
Visão salpicada de estrelas
Confundem a mente
Para libertar-me procuro a lua
E esse luar onde está?
E nesta ciranda constante
Na missão de recompor-me
Num enlevo reconfortante
Entrego-me com ternura
Neste espaço virgem
Para terminar a minha cura
E viver sem ti.
Leda Pereira

NOSSAS PRAÇAS

Resolvi que a partir deste ano vou caminhar na praça todos os dias! Começarei com três voltas, depois aumentarei todos os dias uma volta.
Assim desci na praça bem em frente do meu apartamento e iniciei a caminhada. Já vi desde o primeiro passo, que a calçada deixa a desejar, então precisa prestar atenção onde coloco meus pés, pois, há buracos, sujeiras, saquinhos plásticos jogados. Pergunto-me: Por quê o povo não respeita o meio ambiente? Não trata a praça como a sua própria casa?
Passo a passo fui meditando. O olhar ia se intercalando entre o chão e as árvores. Sim, há muitas nesta praça, conheço somente o nome de algumas: o ipê branco que vejo florido ao final do inverno, as palmeiras, as outras não as conheço. Lamento não saber o nome de todas elas para nomeá-las nesta minha pequena crônica.
A grama está verde devido às chuvas desta estação, mas infelizmente está pontilhada com copos descartáveis jogados no meio dela. Será o pipoqueiro o responsável por este mau trato? Ele não poderia evitá-lo colocando um lixinho perto do seu carrinho... Ou ele tem, mas ninguém usa!
Então vou eu, caminhando, olhando e fazendo minhas considerações. Esta praça é muito freqüentada nas manhãs e nas horas mais frescas da noite, pois têm barzinhos, uma sorveteria, uma pizzaria, várias lanchonetes, e se não bastasse têm também barzinhos com espetinhos e fumaça que inunda do outro lado da rua.
Os proprietários, não se tocam e invadem as calçadas com mesinhas que atrapalham os passantes. Pergunto-me: Onde está a fiscalização?
As minhas considerações continuam surgindo com os meus passos. Vejo então um casal de namorados se beijando, um velhinho com seu cachorro, as crianças na grama correndo atrás da bola, os taxistas, sempre mais gordos, sentados no banco aguardando uma chamada. Também o dono da banca de jornal olha curioso enquanto passo: Uma, duas e três voltas... Curioso, andei muito depressa, somente quinze minutos. Resolvo andar mais, não me sinto cansada, o que me cansa é este descuido pela praça. De repente sou ultrapassada por uma garota morena que corre e por um jovem bonito, atrás de mim, vagarosas e conversando, duas senhoras...
Faço uma comparação com as praças da minha terra, a Itália. Na cidade onde eu morava era outro tratamento, outra educação, outro respeito pelo meio ambiente. Que pena! Penso o que podia ser feito aqui para melhorar esta praça tão bonita; afinal quanta gente vem caminhar aqui, como eu: para melhorar a forma, para melhorar o colesterol... E será que ninguém se importa com a sujeira e o entulho que descarregam na calçada da praça?
A praça da qual estou falando é a “Praça Rômulo Morandi” entre a Rua Luiz Barreto e a Rua Marques de Pombal. Uma bonita praça que, se fosse mais cuidada, seria um orgulho para os freqüentadores, pois refletimos nossa imagem onde vivemos, portanto é sério pensar nisto.
Irei todos os dias nesta praça, mas levarei um saquinho para colocar o lixo que encontrar no meu caminho, seria bom que alguém seguisse meu exemplo. Apesar de que alguém irá me chamar de louca!
Não quero ser a melhor da praça, mas queria conscientizar o povo para ter mais respeito pela nossa bela cidade de Ribeirão Preto. Se todos fizessem a sua parte, como tudo seria melhor, em primeiro lugar a educação!
Ganhei uma mudinha de “Flamboyant” irei procurar um lugarzinho na praça e irei plantá-la quanto antes, assim com a desculpa de vê-la crescer, as minhas visitas à praça serão necessárias e, não irei descuidar da minha proposta: Caminhar na praça todos os dias!

Elisa Alderani

A LUTA PELA VIDA

A primavera está chegando
O jardim já está florido
O sol intenso raiando
Destacando o belo colorido
Uma mistura de aromas sem igual
Pássaros cantando felizes
Tudo lembra um recital
No cenário um show de matizes
Em um casulo pequeno
O grande espetáculo acontecia
Uma lagarta sofrendo
Um lindo par de asas surgia
O momento é de decisão
Ela não pode errar
Lutar pela libertação
Ou morrer naquele lugar
Transformou-se em borboleta
Pois é uma guerreira destemida
Vai voar pela vez primeira
E aproveitar as belezas da vida.
André Luiz da Silva